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Tijomilho: inovação com sabugo do milho ganha destaque internacional

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Em tempos em que o mundo busca soluções sustentáveis e práticas para os desafios ambientais, um projeto nascido em uma pequena cidade do interior do Paraná chama a atenção de universidades, investidores e especialistas de diversos países. Trata-se do Tijomilho, um tijolo ecológico criado a partir do sabugo de milho — resíduo agrícola abundante, muitas vezes descartado ou queimado — desenvolvido por duas jovens estudantes do SESI/SENAI de Santo Antônio da Platina: Clara Nogueira Dalsaço e Ana Júlia Paiva.

Aos 17 anos, Clara e Ana Júlia viram seu projeto sair das salas de aula do ensino médio, percorrer feiras científicas regionais, estaduais e nacionais, e alcançar a cena internacional. Em junho de 2025, elas apresentaram o Tijomilho na Genius Olympiad, uma das mais importantes feiras de ciência e sustentabilidade do mundo, realizada nos Estados Unidos.

O nascimento de uma ideia inovadora

O Tijomilho nasceu em 2024, no ambiente da Feira de Engenharias, promovida pelo SESI/SENAI em parceria com o CRE e a APLA. A proposta era clara: desenvolver soluções criativas para problemas enfrentados por áreas específicas da engenharia. Coube à equipe de Clara e Ana Júlia a responsabilidade de trabalhar com a engenharia civil.

Em vez de seguirem caminhos convencionais, as estudantes decidiram ir além. Pesquisando os desafios da construção civil, perceberam que o uso excessivo de cimento — grande emissor de CO₂ durante sua produção — era um dos principais vilões ambientais do setor. Daí surgiu o insight: e se fosse possível criar um tijolo sustentável com matéria-prima vegetal, abundante e de baixo custo?

Depois de considerar outros resíduos, como a mandioca, que se mostrou inviável pela escassez na região, elas se voltaram para um resíduo típico da realidade rural local: o sabugo de milho.

A jornada da pesquisa: ciência, resiliência e chão de fábrica

O desenvolvimento do Tijomilho envolveu sete etapas, que incluíram desde a formação do problema até a preparação para a apresentação internacional. Durante esse processo, as alunas realizaram diversos testes de composição, resistência, compressão, absorção de água e estabilidade, com apoio técnico de professores como Roberto Micó, especialista em elétrica e automação, e da diretora da instituição, Tatiana Nespoli.

Com o apoio de cerâmicas da região e da Universidade Estadual de Londrina (UEL) — que ofereceu estrutura de laboratório e orientação científica — as alunas foram ajustando a receita do tijolo até encontrar a fórmula ideal. O resultado foi um protótipo que utiliza cerca de 500g de sabugo de milho seco por unidade, reduz pela metade a quantidade de cimento tradicional (7% contra os 15% comuns em tijolos ecológicos) e apresenta excelente desempenho estrutural.

Além disso, a utilização do sabugo contribui para a retenção de água, o que possibilita menos consumo hídrico durante o preparo da massa, e reduz a emissão de carbono ao substituir parte dos componentes industrializados por resíduos vegetais.

Reconhecimento internacional e o despertar de um propósito

A apresentação do Tijomilho nos Estados Unidos foi mais do que um prêmio: foi uma confirmação de que a ideia tinha potencial global. Dentre os mais de 2.400 projetos apresentados por jovens de 69 países, o Tijomilho chamou a atenção não apenas dos jurados, mas também de visitantes e avaliadores que reconheceram sua originalidade, simplicidade e viabilidade comercial.

De acordo com as próprias estudantes, o momento mais marcante foi quando uma jurada reconheceu o projeto dias depois da avaliação formal, apenas para dar os parabéns mais uma vez. “Foi quando a gente percebeu que realmente estava deixando uma marca”, disseram.

Sabugo de milho: de resíduo a matéria-prima valiosa

Um dos diferenciais do projeto está na abundância da matéria-prima. O sabugo de milho, muitas vezes deixado nas lavouras, queimado ou incorporado ao solo, não possui atualmente um destino comercial bem definido. A ideia do Tijomilho é transformar esse resíduo em produto de alto valor agregado, abrindo portas para uma cadeia de produção sustentável e economicamente viável.

O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. A escala da produção de sabugo é imensa — o que permite sonhar com uma futura produção em larga escala de tijolos ecológicos baseados nesse insumo.

O futuro do Tijomilho: parcerias, patente e mercado

Atualmente, Clara e Ana Júlia estão na fase de refinamento final da receita e dos testes laboratoriais, com vistas à patente do produto. O objetivo é garantir segurança jurídica para a inovação e atrair investidores interessados em sustentabilidade, construção civil e novos materiais.

Com o apoio da prefeitura de Santo Antônio da Platina, através do CDTI (Centro de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação), e parcerias locais com cerâmicas e universidades, as alunas têm agora um ambiente fértil para transformar o protótipo em produto comercial.

Além disso, o projeto se tornou uma referência dentro da própria instituição, servindo de exemplo para novas turmas e mostrando que, com incentivo, pesquisa e coragem, o ensino médio pode ser um berço de inovação de impacto global.

Acompanhe a matéria completa feita pela nossa equipe:

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