O produtor Moisés Schmidt, da Schmidt Agrícola, acredita que o Brasil pode se tornar referência global na produção de cacau. Após visitar quatro países africanos — Nigéria, Gana, Costa do Marfim e Senegal — ele voltou convencido do potencial brasileiro.
Durante 12 dias na África, Schmidt viu de perto os desafios enfrentados pelos maiores produtores mundiais de cacau. Segundo ele, a combinação de escala, irrigação e tecnologia usadas no Brasil pode salvar o futuro do chocolate.
Projeto ousado no Oeste da Bahia
Localizada em Barreiras (BA), a Schmidt Agrícola cultiva soja e algodão há quase 30 anos. Desde 2018, também investe em fruticultura, com destaque para bananas exportadas. Mas o foco agora é o cacau.
A meta é ambiciosa: implantar 10 mil hectares da fruta, transformando a fazenda na maior do mundo no setor. Atualmente, o projeto conta com 400 hectares em fase piloto, sendo 70% já implantados.
Segundo Schmidt, o mercado enfrenta uma crise séria de oferta. A falta da amêndoa pode mudar o chocolate que conhecemos hoje. Com escassez crescente, empresas já estudam substituir o cacau por açúcar, gordura e trigo.
Investimento pesado e viveiro próprio
Para produzir em larga escala, a empresa aposta em tecnologia de irrigação plena, abandonando o sistema tradicional de cabruca. Cada hectare exige R$ 200 mil em investimento nos três primeiros anos.
Outro desafio é a falta de mudas de qualidade. A solução encontrada foi criar o maior viveiro de cacau do mundo. Chamado de BioBrasil, o local já produz 3,5 milhões de mudas por ano. A meta é atingir 10 milhões até 2027.
A aposta é que o Brasil pode suprir parte do déficit global. Estima-se que, até 2050, a demanda salte de 5 milhões para até 10 milhões de toneladas por ano.
Oportunidade histórica para o Brasil
O presidente da World Cocoa Foundation, Chris Vincent, reconheceu o papel estratégico do Brasil durante conferência em São Paulo. Para ele, o país reúne conhecimento, infraestrutura e potencial de produção.
A queda na produção da África, causada por problemas climáticos e sanitários, gerou um déficit global de 480 mil toneladas. Isso fez o preço do cacau disparar, alcançando picos históricos nos últimos meses.
A economista Pam Thornton alerta que o momento exige ações sustentáveis e bem planejadas. Para ela, se não houver resposta agora, o setor pode voltar ao esquecimento.
Modelo sustentável e produtividade promissora
Schmidt aposta num modelo moderno, com agroflorestas, cobertura verde e culturas complementares, como braquiária e leguminosas. A produção usa irrigação por microaspersão e manejo de precisão.
Parcerias com a Embrapa e a Ceplac garantem o suporte técnico ao projeto. Inicialmente, a meta era produzir 200 arrobas por hectare. Mas hoje, a expectativa é dobrar, chegando a 400 arrobas — ou 6 toneladas por hectare.
A operação ainda não é lucrativa, pois está em fase de transição. No entanto, já gera receita parcial e atrai produtores da região. Atualmente, cerca de 30 agricultores do Oeste da Bahia também investem na cacauicultura, com mais de 700 hectares em implantação.