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Brasil e Mercosul: Futuro da produção agrícola

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Brasil lidera parceria no Mercosul

Na próxima década, a produção de grãos e oleaginosas no Mercosul deve crescer em 100 milhões de toneladas, com um aumento de 58 milhões de toneladas nas exportações. Os principais destaques desse crescimento são milho, soja e trigo. A região desempenha um papel crucial na segurança alimentar global, representando cerca de 10% das exportações agrícolas mundiais e sendo a maior exportadora de commodities agrícolas.

Esses dados são parte das estimativas do primeiro Outlook dos países do Cone-Sul, o Mercosul, lançado em 25 e 26 de setembro em Buenos Aires, Argentina. O documento, elaborado por especialistas de instituições de pesquisa de todos os países do bloco, fornece projeções de longo prazo para os principais produtos agrícolas, utilizando um modelo de equilíbrio parcial.

A Embrapa contribuiu significativamente para essa iniciativa, participando com uma equipe composta por assessores da presidência, pesquisadores e analistas de suas várias divisões.

Segundo Paulo do Carmo Martins, pesquisador e assessor da presidência da Embrapa, a produção e o comércio agrícola na região enfrentam desafios globais, como mudanças climáticas, instabilidades nos mercados e políticas comerciais protecionistas. Ao mesmo tempo, há uma pressão crescente para minimizar os impactos ambientais da produção. “Os dados do Outlook são essenciais para abordar esses desafios futuros”, afirma Martins.

O evento reuniu autoridades e especialistas do setor agropecuário dos quatro países do bloco: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Organizado pela Fundação Instituto para las Negociaciones Agrícolas Internacionales (INAI) e a Bolsa de Cereales da Argentina, o encontro contou com o apoio da Embrapa e do Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR)/International Food Policy Research Institute (IFPRI).

De acordo com Silvia Kanadani Campos, pesquisadora da Embrapa, a elaboração de projeções na forma de um Outlook é uma prática comum no setor privado em outros países, mas ainda pouco explorada no Brasil. “Os resultados apresentados refletem as mudanças de mercado, permitindo analisar o impacto de alterações políticas e eventos sobre variáveis econômicas, gerando informações relevantes para a tomada de decisões e formulação de políticas públicas agrícolas”, explica a especialista.

Cooperação no Mercosul

Martins ressaltou a necessidade de uma abordagem conjunta dos países do Mercosul para avançar na agricultura, com base em interesses comuns. Ele destacou a iniciativa do governo brasileiro em promover uma economia verde, utilizando terras degradadas e incentivando boas práticas ambientais.

O compromisso da comunidade internacional de disponibilizar US$ 100 bilhões para países em desenvolvimento visa facilitar a transição para energias renováveis e agricultura regenerativa. “O caminho para a sustentabilidade requer garantir a produtividade nas áreas já utilizadas e incorporar terras degradadas em processos produtivos”, explica Martins.

O evento também abordou questões como potencial produtivo e desmatamento. Durante uma das discussões, os analistas da Embrapa Territorial apresentaram um estudo sobre desmatamento e uso da terra nos biomas Amazônia e Cerrado, além dos compromissos das cadeias produtivas, especialmente da soja, em atender às demandas do mercado consumidor.

A comitiva da Embrapa teve um papel ativo, não apenas na elaboração do Outlook, mas também nas discussões técnicas sobre metodologias para prever cenários para a agropecuária no Mercosul. “A colaboração de especialistas de várias Unidades Descentralizadas foi fundamental para validar as projeções nos últimos meses”, afirma Silvia.

A equipe da Embrapa também visitou a sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Buenos Aires para conhecer o projeto Avanzar2030, focado na sustentabilidade dos sistemas agropecuários na América Latina.

Expectativas

As discussões no lançamento do Outlook Mercosul foram finalizadas com uma análise detalhada do modelo de equilíbrio parcial computável utilizado para as previsões. A equipe brasileira concluirá até o final do ano documentos que abordarão as dimensões econômicas, climáticas e ambientais discutidas, o que é fundamental para manter a parceria com outras entidades do Mercosul.

Desde 2023, a colaboração com o IFPRI faz parte da iniciativa CGIAR on Foresight, que visa oferecer insights para decisões que levem a sistemas alimentares mais produtivos e sustentáveis no futuro. Vanessa da Fonseca Pereira, coordenadora do processo no Brasil, observa que “esses modelos, apesar de complexos, permitem simular o impacto de diferentes cenários”.

Há planos para desenvolver um Outlook específico com dados e projeções para o Brasil, além de outras versões para o Mercosul. “Notamos um grande interesse das representações diplomáticas brasileiras neste tipo de documento, especialmente para fortalecer negociações conjuntas dentro do Mercosul”, conclui Paulo Martins.

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