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Problemas estruturais por crescimento acelerado geram perdas de mais de US$ 100 milhões anuais nos Estados Unidos

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O rápido crescimento dos frangos de corte, impulsionado por décadas de avanços em genética e nutrição, tem trazido alguns desafios à indústria avícola. Com o foco crescente na maximização de peso em um curto período, muitos lotes enfrentam deformidades e problemas ósseos que afetam a qualidade das carcaças e a rentabilidade de cadeia avícola.

Condições como discondroplasia tibial, lesões articulares e problemas musculares vêm se tornando cada vez mais frequentes, resultando em carcaças menos uniformes e propensas a lesões, fatores que afetam exponencialmente a qualidade final da carne de frango. “Diante desse cenário, a indústria enfrenta o desafio de equilibrar a eficiência produtiva com a saúde das aves, buscando soluções que reduzam os impactos desses problemas e promovam uma produção sustentável em larga escala”, frisou a especialista em Nutrição Avícola e pesquisadora sênior, Frances Yan, durante sua participação no Simpósio “Uma visão holística sobre os fatores que afetam a carne comercializável: desafios do campo ao processamento”, realizado na Conferência Científica Latino-Americana (PSA Latam), de 08 a 10 de outubro, em Foz do Iguaçu, PR.

A profissional trouxe aos conferencistas uma visão sobre como o crescimento acelerado das aves nos Estados Unidos (EUA) tem gerado impactos substanciais na qualidade dos lotes que chegam às plantas frigoríficas para processamento. De acordo com ela, a inspeção e a classificação das carcaças em território norte-americano são processos distintos, cada um com um papel fundamental na garantia de um produto final seguro e de qualidade. Esses processos, embora complementares, atendem a objetivos diferentes no controle da produção avícola.

A pesquisadora explica que a inspeção das carcaças tem como objetivo garantir que o produto final não seja adulterado e esteja próprio para o consumo humano, promovendo a segurança pública. Frances diz que essa etapa é obrigatória e financiada pelo governo federal, sendo supervisionada pelo Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar (FSIS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

A classificação, por outro lado, é um processo voluntário, financiado pelas próprias empresas e supervisionado pelo Serviço de Marketing Agrícola (AMS) do USDA. O foco deste processo está em aspectos estéticos e comerciais da carcaça, como uniformidade e presença de hematomas ou deformidades, fatores que influenciam diretamente no valor de mercado. “Somente as carcaças que passam pela inspeção podem ser submetidas à classificação, garantindo que o produto comercializado atenda tanto às normas de segurança quanto aos critérios de qualidade exigidos pelo mercado”, enfatiza a especialista em Nutrição Avícola.

Desafios no sistema musculoesquelético

Como sustentar a qualidade da carcaça ao mesmo tempo que promove o rápido crescimento das aves é o atual dilema da cadeia de produção de frango de corte. Problemas ósseos e articulares, como fraturas brancas e vermelhas, articulações inchadas, artrite e rupturas de tendão se tornam cada vez mais comuns com o ganho de peso desses animais. “A qualidade da carcaça está relacionada diretamente com a integridade do sistema esquelético. Problemas estruturais, como fraturas e articulações inchadas, são uma das principais causas de reclamações de qualidade de clientes e de declarações de seguro nos Estados Unidos”, ressalta Frances.

A integridade estrutural do sistema musculoesquelético – composto por ossos, cartilagens, tendões, ligamentos e todos os tecidos conjuntivos especializados – é fundamental para que os frangos suportem seu próprio peso e se movam com eficiência. “O colágeno, por exemplo, é um componente central deste sistema, oferecendo uma estrutura para as células ósseas e sendo determinante na resistência e flexibilidade dos ossos”, expõe a especialista

O rápido crescimento e o aumento significativo na massa muscular, especialmente nas aves criadas para desenvolver peitos grandes, apresentam desafios expressivos. A pesquisadora explica que este desenvolvimento intenso exerce uma pressão mecânica adicional nos ossos das pernas, o que pode causar dor e alterações na postura em pé dos frangos, que farão com que o centro de gravidade desses animais se mova para frente, alterando a força de suporte das pernas, diminuindo assim a resistência óssea das pernas.

Impacto da claudicação e anomalias esqueléticas

Problemas de mobilidade e desenvolvimento esquelético deficiente são comuns em frangos de crescimento rápido, levando a perdas econômicas que ultrapassaram US$ 100 milhões anuais nos EUA.

Segundo levantamento da Comissão Europeia, aproximadamente 30% das aves criadas em sistemas de produção intensiva apresentam problemas nas pernas, com taxas de claudicação variando entre 14,5% e 57% na União Europeia.

Frances menciona que o desenvolvimento esquelético deficiente é influenciado por múltiplos fatores, incluindo predisposição genética, infecções virais, bacterianas e fúngicas, além de questões nutricionais e ambientais. Segundo ela, entre as causas mais frequentes está a Condronecrose bacteriana com osteomielite (BCO), uma infecção que atinge as placas de crescimento nas partes laterais do fêmur e da tíbia, gerando necrose nos tecidos e dor intensa, comprometendo a capacidade das aves de se moverem e suportarem seu peso. “Além de afetar o bem-estar dos frangos, a BCO impacta diretamente na qualidade da carne, uma vez que as lesões podem tornar a carcaça imprópria para consumo”, ressalta a pesquisadora.

Outra condição frequente é a Descondroplasia Tibial (DT), que resulta em deformidades ósseas e na presença de massas de cartilagem avascular na extremidade proximal da tíbia. Frances explica que esse tipo de lesão afeta a mobilidade das aves, causando aumento da incidência de claudicação. “A DT é atribuída a uma combinação de fatores como taxas de crescimento acelerado, desequilíbrios nutricionais, incluindo a proporção concentrada entre fósforo e cálcio, além de fatores genéticos”, salienta, frisando que contaminações por fatores ambientais, como o tirame, também têm sido correlacionadas ao desenvolvimento da DT, destacando a necessidade de se considerar, além do manejo genético, os cuidados ambientais na criação de frangos.

A ruptura do tendão gastrocnêmio é uma das causas mais comuns de claudicação e ocorre frequentemente em função do excesso de peso corporal que as aves precisam suportar. A pesquisadora cita que esse tipo de lesão envolve a formação de um espessamento fibroso e nódulos na área do jarrete, comprometendo a integridade do tendão (Figura 1). “Quando o tendão se rompe ocorre hemorragia e descoloração na área afetada, o que por vezes é confundido com artrite”, expõe.

A ruptura é particularmente frequente em aves com tendões previamente fragilizados por condições como o Reovírus de tendinite estafilocócica, indicando que, além do peso corporal, as inflamações prévias e o histórico de saúde das aves são determinantes para o agravamento desse quadro.

Fonte: O Presente Rural

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