O relatório Turning Point: Feeding the World Sustainably destaca como as ações coordenadas para tornar o sistema alimentar global sustentável podem beneficiar o Brasil e o mundo. Tal movimento pode aumentar o PIB global em US$ 121 trilhões e atender às necessidades nutricionais mínimas de 1,6 bilhão de pessoas até 2070. Para isso, será necessário um aumento de 40% na produção de calorias, enquanto se limita o aquecimento global a menos de 2°C.
Segundo o relatório feito pela Deloitte, quase um quinto dessas calorias extras produzidas seriam destinadas a regiões onde a fome é mais prevalente, beneficiando 300 milhões de pessoas atualmente desnutridas. Nesse mesmo período, as emissões de gases de efeito estufa próprios do sistema alimentar global poderiam cair em cerca de dois terços, contribuindo para a melhor do clima. Essa dinâmica teria impacto também nos preços dos alimentos, com redução estimada em até 16% consumidores e produtores em todo o mundo.
O Brasil no cenário global
O Brasil, com sua posição de destaque na produção agrícola e na preservação ambiental, é considerado estratégico nesta transformação. O país, que já lidera a produção de alimentos como soja, milho e carne bovina tem o potencial de adotar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a agrofloresta, o manejo sustentável com o uso de biocombustíveis e suplementos alimentares para reduzir emissões de metano no gado. Essas ações não apenas contribuirão para os esforços globais de mitigação climática, mas também fortalecerão a segurança alimentar no Brasil e em outras regiões.
Além disso, o uso de tecnologias de precisão pode aumentar a eficiência em até 13%, reduzindo a necessidade de expansão de terras agrícolas e minimizando o desmatamento, enquanto a restauração de áreas degradadas fortalecerá a sustentabilidade ambiental no país.
“O Brasil tem a oportunidade de liderar uma revolução sustentável no setor alimentar com a nossa riqueza natural e capacidade de inovação. Investir em práticas agrícolas inteligentes e na conservação ambiental é não apenas um imperativo moral, mas uma vantagem competitiva para o país. Ao adotarmos soluções inovadoras, é possível atender à crescente demanda por alimentos de maneira mais eficiente, mas também nos posicionarmos como um protagonista global na luta contra as mudanças climáticas” afirma o sócio-líder de Consumer da Deloitte, Paulo de Tarso.
O impacto da inação e as oportunidades
A pesquisa destaca ainda os riscos da inação, estimando que, sem intervenções, as mudanças climáticas não controladas poderiam custar à economia global US$ 190 trilhões entre 2025 e 2070. Esses danos reduzirão o valor das indústrias de produção alimentar primária (como agricultura, pecuária, laticínios e pesca) em US$ 13 trilhões, e os setores de manufatura e serviços alimentares também poderiam perder US$ 12 trilhões nesse período. No Brasil, isso representaria perdas significativas nas indústrias de produção primária.
Riscos e recompensas são mais significativos em países subdesenvolvidos
A análise revela que a transição para sistemas alimentares sustentáveis poderia aumentar a produção global de alimentos em 9%, o que equivale a um aumento de US$ 22 trilhões na produção do setor até 2070. Essa maior produção de alimentos poderia alimentar a população global projetada de quase 10 bilhões de pessoas e reduzir os preços dos alimentos em 16%, tornando dietas mais saudáveis e mais acessíveis.
Países de baixa renda poderiam ter os maiores ganhos, incluindo um aumento de 12% no PIB e o maior crescimento no consumo per capita de alimentos, com um aumento médio de 626 calorias por pessoa por dia, em 2070. A concentração global de calorias adicionais produzidas também deve aumentar ao longo do tempo em regiões com populações significativas enfrentando fome, como África Subsaariana, Sul e Sudeste Asiático e América do Sul. Economias vulneráveis poderiam se beneficiar de esforços para reduzir emissões por meio de ajustes estruturais que integrem práticas agrícolas inovadoras e sustentáveis e evitem danos climáticos potenciais.
Comprometimento com um futuro sustentável e equitativo
A pesquisa conclui que, para garantir a alimentação sustentável a longo prazo, será necessária uma transformação sistêmica abrangente no sistema alimentar global. Estratégias eficazes devem abordar as desigualdades no consumo de alimentos, promover uma produção mais sustentável e resiliente às pressões ambientais e evoluir políticas para a transição rumo às emissões líquidas zero.
Entre as soluções propostas estão: acelerar a inovação tecnológica, promover melhorias de produtividade, investir na proteção e restauração do capital natural, e reduzir as emissões globais para limitar as mudanças climáticas e seus impactos negativos. “Essas iniciativas são essenciais para construir um sistema alimentar mais sustentável e equitativo, capaz de atender às demandas de uma população crescente e preservar os recursos naturais para o futuro”, frisa Tarso.
Quanto ao cenário brasileiro, a análise propõe a adoção de tecnologias inovadoras, como a agricultura de precisão e o uso de dados climáticos para otimizar safras e o gerenciamento de recursos. Destaca também a importância da proteção do capital natural, com a restauração de áreas degradadas e a implementação de sistemas agroflorestais. A redução de emissões é essencial, incentivando práticas de manejo sustentável no agronegócio e investindo em bioenergia.
O relatório ainda sugere mudanças nos padrões de consumo, promovendo dietas mais sustentáveis e a redução do desperdício de alimentos, além de adotar a economia circular, incentivando o reaproveitamento de resíduos agrícolas e subprodutos na cadeia de produção.
De acordo com Guilherme Lockmann, sócio-líder da Deloitte para Sustentabilidade e o segmento de Power, Utilities e Renewables, o estudo revela que alimentar o mundo de maneira sustentável exige mudanças fundamentais em larga escala. “Investir em sistemas alimentares sustentáveis não apenas tem o potencial de tirar centenas de milhões de pessoas da desnutrição, mas também de conservar recursos naturais e mitigar os efeitos das mudanças climáticas”, expõe.
Lockmann ainda ressalta que se trata de uma oportunidade fundamental para limitar os impactos negativos das mudanças climáticas na produtividade agrícola e, ao mesmo tempo, impulsionar o crescimento econômico em diversos setores. Para isso, é essencial que todas as partes da economia global alinhem seus objetivos, promovendo investimentos em pesquisa e desenvolvimento agrícola, fortalecendo a proteção dos recursos naturais e intensificando os esforços de descarbonização. “A transformação dos sistemas alimentares é um passo indispensável para garantir um futuro sustentável e inclusivo”, aponta
Fonte: O Presente Rural